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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ALEGAÇÕES EM AZUL

 



Pablo Picasso

 

Amanheceste sem assunto?  Então volta o rosto para cima e te deixa molhar pela mais profunda e suave das cores.  Cuida pra não te emaranhares nas franjas brancas perigosas das nuvens donzelas, alienadas e convidativas.  E desfruta do “tudo azul” sobrenatural e melhor dos mundos. Pensa suavemente na paz dos mosteiros, no manto da Mãe Aparecida, num painel de Portinari ou na dubiedade incorpórea das criaturas e paisagens de Picasso, tão extenso, mediterrâneo, tão andaluz... tão azul.

   


Pablo Picasso

 

Na trilogia primária das cores, o amarelo é entrevero fecundado pela inveja; o vermelho quase sempre rima com desespero. Só o azul, desprovido de ardilezas, o brando azul é pigmento de leveza, calma e liberdade. Se o verde é repouso terreno, o viço mais espesso nas veredas instáveis desta vida, é na planura repousante dos azuis que os deuses passeiam todos juntos, e sorriem de nós, capitães de areia, argonautas e astronautas, a alevantar a taça cheia de nada, no instável dos dias. Apontam, esses deuses, embaixo, o alarido das sutilezas descabidas, o fervor anti-heroico das horas malcontadas, a lavra adamantina e multiface de nossos espelhos. Apontam, divinamente celestes, com a extremidade incorpórea dos dedos, nossa ânsia por deslizar nas bordas do arco-íris.

   

Michelangelo

 

   

Deus anunciou: “Que haja luz!”, realizando a magia do princípio. E, separando o negrume do caos, abriu o cortinado azul dos oceanos e do firmamento.  Fez também um cenário de aventuras, pra que dominássemos os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos e todas as feras. E, no desespero pela libertação das trevas, fizemo-nos Ulisses e singramos a imensidão azul dos sete mares, na ânsia de apalparmos o invisível dos sonhos. No deslizar da história, e tentando vencer a imensidão, fizemo-nos desde sempre Ícaros.  Contemplamos a terra como num sonho todo azul, nas aventuras de Buck Rogers (a história em quadrinhos era em preto e branco) a revelar-nos o tom sobre tom do grande azulejo terreno. Muitos anos após, comovidamente, exclamou Iuri Gagárin: A Terra é azul!, ...solta, girante e girando silente  na tela calma do infinito.

  

 


The earth is blue

 

No maravilhoso tear da existência, ao tecer as fibras mais ordinárias do estar e conviver no mundo, fazemos do azul a cor do Nirvana; dependuramos em nós a pedra-amuleto de água-marinha, na crença propiciatória das viagens tranquilas. Pintamos a casa em tons azuis se a queremos morada da paz.  E, se buscamos na fonte o batismo da inspiração, tingimo-nos de azul e serão azuis as palavras. E em alegações azuis será, imaginária e branda, a crônica dum amanhecer acinzentado, no virtual espaço do blog em que navegas.


  

    Portinari






4 comentários:

  1. Para começar meu domingo cinza...já valeu!!!!! Sei que agora ele estará mais azul. Boa semana para ti. Beijos.

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  2. "Só o azul, desprovido de ardilezas, só o brando azul é pigmento de leveza, calma e liberdade." O azul me fascina ...Adorei!!!

    Parabéns querido amigo! Estou encantada com seu espaço " mágico" . É ROMILDO SANT'ANNA maiúsculo !
    Uma ótima semana para o amigo. Beijos
    Vera Mussi

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  3. O azul e maravilhoso.
    O azul combina com todos os estados de espirito.
    Adorei! Abracos ...
    Jeanne Gantman

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