Eia, Eleanor Rigby! Mesmo não dominando o inglês, não há quem por ela não se encante. Na letra, apenas evocações: uma mulher que vive em sonhos, guarda seu rosto num jarro junto à porta (que bela metáfora!), e recolhe arroz à saída da igreja após os casamentos. No refrão, a pergunta: Ah, todas as pessoas solitárias, de onde elas vêm, de onde elas são? Naquela igreja, um velho, Padre McKenzie, escreve o sermão que ninguém ouvirá e remenda suas meias puídas. No enterro de Eleanor, só Padre McKenzie acompanha o caixão. Ah, quanta gente solitária, quem elas são?
Que lirismo pleno de melancolia! Que harmonia de vozes cadenciadas por orquestra sinfônica com destaque aos violinos! Sai agora o livro “The Beatles: a história por trás de todas as canções”, de Steve Turner (Cosacnaify, 2010). A leitura sobre essa canção confirma a distância entre o processo criativo da arte e a obra concluída. Induz-nos a compreender como a poesia se faz dum cerzimento de fatos reais, acasos e os mistérios da inspiração.
O tema e as primeiras frases sonoras surgiram quando Paul McCartney estava ao piano. A mulher se chamaria Miss Daisy Hawkins, mas o nome não se encaixava à melodia. Imaginou-a uma jovem, mas logo a refez como uma senhora, talvez solteirona, remota lembrança de alguém que conhecera na infância. Mudou para Ola Na Tungee, nome que não lhe pareceu suficientemente real. Pensou então na atriz Eleanor Bron (a sensual vilã convertida do filme Help! - 1965). Ou seria Eleanor Bygraves? – conta o compositor Lionel Bart –, cuja inscrição figurava na lápide dum cemitério em Londres e que Paul McCartney a sentiu como adequada à personagem.
O sobrenome Rigby, que combinava com Eleanor, surgiu numa placa defronte do Theatre Royal, em Bristol: Rigby & Evens Ltd. Era o que Paul buscava sem saber que Frank Rigby, o fundador da empresa no século 19, nascera em Liverpool, sua terra natal. Empenhados em dar consistência à história, John, George, Ringo e um amigo de infância de Paul imaginaram um catador de lixo com quem Eleanor teria um secreto caso de amor. Eis, em encontro, os corações solitários! Mas a letra se complicaria. Que tal Padre McCartney, que acompanharia Eleanor ao túmulo? McCartney definitivamente não, pois poderia confundir com uma referência ao pai de Paul.
Na lista telefônica surge o Father McKenzie, que remendava as meias de noite, em solidão. O impressionante na concepção de “Eleanor Rigby” é que Paul McCartney e John Lennon se encontraram por primeira vez no cemitério St. Peter’s, em Wooldton, em 1957, durante o Festival Anual de Verão. Portanto nove anos antes da música. A um metro de onde se conheceram havia uma lápide: Eleanor Rigby. O nome jazia na mente de Paul e foi necessário caminhar muito para se atingir o que estava próximo? São mistérios que enleiam a criação, da arte e da vida, aos sortilégios imensos do destino. Vida e morte gravadas numa pedra.
Texto lindo, cheio de poesia! Sou cada vez mais fã de Beatles e cada vez mais fã do senhor! Beijo, professor.
ResponderExcluirBelo texto.Um blog com muito conteúdo,gostei muito!Parabéns.
ResponderExcluirMarta Mazzotta
Com o Ray Charles é ainda mais tocante, hein Romildo? Abraço!
ResponderExcluirEs una hermosa reseña llena de informaciones nuevas, sobre todo para aquellos que vivimos la historia de este fantástico grupo de Liverpool, los que demuestran hasta hoy, que su producción se constituía en verdaderas obras muy bien trabajadas y no el resultado de una inspiración pasajera. Muchas gracias estimado amigo. Por este blog y el aporte cultural que el mismo hace bajo su administración.
ResponderExcluirEstimado amigo Romildo. Gostei muito do seu blog,que seguramente é fruto de muito estudo, sensibilidade e criatividade. O texto sobre Eleanor Rigby faz jus a beleza da música e sua misteriosa letra. É bom também caminhar ao seu lado,e do nosso amigo comum João Carlos Felício, fazendo exercício, e trocando impressões dessa vida e de outras... Adelante! Siempre! José Manoel
ResponderExcluirBacana demais Romildo. Uma aula de história sobre aqueles cujo trabalho conhecemos, mas que nunca se cansam de nos surpreender, assim como você com sua literatura de primeira. Parabéns! Bj Cecília Dionizio
ResponderExcluirMuito bacana sua crônica! Beatles, dispensa qualquer comentário.É difícil encontrar quem não goste.E o mais interessante foi toda esta sua pesquisa em torno da música.É como você mesmo disse a poesia é feita de fatos, acasos, inspiração e mais... dedicação.Parabéns!Continue nos enriquecendo culturalmente.
ResponderExcluirRô,
ResponderExcluirVc é meu ídolo!!!! The beatles são, para sempre, os melhores! Tudo fica mais legal e mais emocionante quando vc analisa, me deu saudade das aulas. Me deu saudade de você!!!!
Claro, adorei!!!!!
Beijos, Pá
Querido Romildo:Aunque me cuesta un poco la lectura en portugués, voy viendo poco a poco tus crónicas, reseñas y comentarios y me gustan. Ya iré completando poco a poco la lectura porque tengo muchísimo trabajo estos días. Pero todo tiene una estética maravillosa. Te felicito. Besos
ResponderExcluirMarisa
Espiei o seu texto sobre a balada "Eleanor Rigby". Está bonito, cheio de admiração e enlevo. Você faz uma leitura poética de leituras não muito poéticas. Leitura poética, sim, a sua, e convincente, o que não é pouco quando se considera o fato de que não estou entre aqueles que idolatram os beatles, sequer os dois mais cultuados. Abraço num dia cabalístico doamigo
ResponderExcluirAntônio Manuel.
Romildo, aprecio muito o que vc escreve e como ilustra seus textos. Seu Blog é uma riqueza, uma fonte deliciosa e diversificada. Parabéns!
ResponderExcluirAbraços.
Romildo
ResponderExcluirVocê escreve muito bem.Seu texto é rico em detalhes e falar de Beatles é relembrar "good old times.Parabéns!
Marta Mazzotta
Romildo,
ResponderExcluirTudo lindo, tudo comovente.
Com licença, vou ali - chorar.
Abraço,
José Eduardo Vendramini
Belíssimo! Um post à altura dessa obra prma dos Beatles.
ResponderExcluirConheço Um Amigo que fêz a Versão desta Música em Português chamada " Há Muitos Povos Neste Mundo" . A Versão é muito profunda e envolvente!
ResponderExcluirAlgo en español?
ResponderExcluirasdfghjklñ
Mentira :)
Estuvo muy buena la información y lo que no entendí fue: ¿Porque elijieron justamente a Eleanor Rigby?¿A qué se refeiren con el Padre McKenzie?
Y quiénes eran en verdad las personas solitarias?
Necesito que me respondan :)
ExcluirGracias :D
Amigo Anônimo (en español), las personas solitarias son el Padre McKenzie y la misma Eleanor Rigby. El Padre (Cura) McKenzie tendría sido la única persona a estar con Eleanor Rigby cuando de su muerte. Eleanor fue un nombre elijido al acaso y lo mismo se pasa con el apelido Rigby, pero despues Paul McCartney y John Lennon acuerdaron de que hubo una mujer llamada Eleanor Rigby en el encementerio St. Pepers.
ExcluirRealmente uma análise mto profunda, bela e poética desta obra prima dos beatles, tão melancolica e bela, só podia ser fruto do grande mestre da melodia: Paul McCartney. Sem deixar de lado a letra poética, sucesso com seu blog amigo, continue nos trazendo cultura e nos informando as obras dos grandes mestres do passado .
ResponderExcluirCada site fala uma coisa...
ResponderExcluirParabens professor!!
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