Hugo Chávez, tempos atrás, injuriado com a derrota em plebiscito que lhe aumentaria o poder , traduziu num resmungo o que lhe parecera o triunfo da oposição : “Victoria de mierda!”. Inda quentes de hálito , suas palavras saltaram direto às manchetes , blogs e editoriais . Sublinhava-se o histrionismo do ditador venezuelano. Óbvio , o coronel-presidente não usou o vocabulário adequado à relevância dum estadista e talvez tenha escorregado um pouco mais na gangorra da civilidade. Mas , como de néscio só tem o de costume , valeu-se dum termo rude, porém simpático ao povaréu alienado.
Gentes, palavras e duplos sentidos. Ao fustigar os adversários, Chávez remoía por dentro a sensação de que o resultado eleitoral lhe fora uma porcaria . “Mierda”, derradeira exclamação dum velho desolado em Ninguém Escreve ao Coronel , de García Márquez, era de fato o que disse, e muito mais como explosão interior. Correlativamente, “mandar alguém à m.” não é imperativo de que o interlocutor se dirija à coisa referida.
“Merdre!”, derivação prosódica de “merde” em francês , e dita exclamativamente, é a primeira palavra da peça Ubu Rei , de Alfred Jarry, dramaturgo na virada ao século 20. Lacônica , sintetizava indignação contra as tiranias de seu tempo , metáfora da estupidez reinante. O autor sucumbiu pelo atrevimento do signo, mas, há mais de um século, seu famoso texto sobrevive.
São tabus nos camarins teatrais os votos de “boa sorte ”. Bate-se na madeira esconjurando o azar . Para os bons augúrios , o elenco se abraça e deseja m. a todos. Explica-se a superstição: Quando uma peça fazia sucesso , os sinais visíveis eram as muitas carruagens defronte dos teatros. E ali , os cavalos deixavam seus estrumes, a indicar casa lotada. Tudo encenação no mundaréu dos signos. Em paralelo, a vida real encena seus enredos, com a multidão de seres do bem e alguns da falange dos ínfimos. Esses , pálidos de virtudes, realmente fedem.