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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CRÔNICA DE PARAFUSOS

 







A palavra "parafuso" não se sabe donde veio, se do grego, aramaico ou do latim. A coisa "parafuso" existe pra andar à roda de si, como o tempo pontiagudo escavando a eternidade. Metálico, é sulcado pela fenda funda na cabeça, estigmatizando-lhe o sinal de mais ou menos, depende da chave (ai, como me enrolo com a philips na mão!). Viver na lua é ter um parafuso de menos, ou de mais - quem sabe? -, girante aqui no mundo. Gente baratinada é que entrou em parafuso, no obscuro dos pensamentos e inebriantes vinhos. Parafusos, coisas, tempos e palavras são a quintessência do giro sem fim. Não se sabe aonde chegar. Como alguém, desparafusado, a escrever a crônica de parafusos.






Toda santa hora os humanos raciocinam, parafusam ideias. Não há outro jeito de pensar, senão com palavras! Não há outro modo de existir, senão com palavras! Como disse o filósofo, se parafuso, logo existo. E, parafusando, é assim que, num enlevo, a criança põe-se a pensar sem saber que pensou. Para o cronista, porém, atarraxado em palavras, o descobrimento de si e do mundo o colocou à anteporta da loucura. Loucura - confessa - donde poucas vezes conseguiu sair.

Indaga: "Hoje, segunda-feira, segundo dia da semana... Por quê?". É óbvio, a segunda deveria ser a primeira-feira. Até se diz, convidativamente: "bom fim de semana!". E o camarada vai pra casa descansar. Também com o Altíssimo assim se deu. Pra aplacar a solidão primordial de ser único, fez a lida insana de criar o mundo, parafusando cada coisa em seu lugar. Após seis dias, porque ninguém é de ferro, descansou. Sucede que, sendo o Senhor o "dominus", o que domina e denomina, criou o dia de si: o domingo. Ora, se até na lógica divina extensiva à humana o dia do Senhor representa o fim, como pode ser o princípio? Definitivamente, a segundona brava é a primeira-feira, cê não acha?






Outras minhocas esquentavam os parafusos do cronista: "Os nomes que dão aos meses, que absurdo!" Aprendera em criança que novembro, que lembra 9, é o mês 11; dezembro, que lembra 10, é 12; setembro, que lembra 7, é o mês 9. Não saiu da rota em parafuso até que enxergara, por meio de outras palavras, que os anos na antiga Roma começavam em março. Júlio César alterou o calendário e, numa ajeitada, o papa Gregório o reformou. Então, fevereiro, no passado, seria pra nós dezembro, fim de ano. E, só assim, novembro seria de fato 9. Contudo, inda mais encasquetado, o cronista pergunta: "Se resolveram mexer na contagem dos anos, por que mantiveram aos meses antigas palavras? Foi preguiça ou frouxidão dalgum parafuso?".





A confusão não reside em palavras, mas nas pessoas que as criaram. Porém, se as inventaram para pensar, e se parafusam ideias com palavras, por que usam vocábulos tortos pra pensamentos retos? Ainda: se nos velhos tempos, o calendário iniciava em março e, ademais, se abril significava "abrir", por que março não é abril, o começo? Nesse ponto, se lhe perdeu a rosca - o cronista. Girou disperso em espiral, flutuante, como rolha intrusa na botelha de vinho. Tomou o Vallium e, formigando-lhe as antenas, esqueceu-se de si. Adormeceu.





Que mês estamos, Beavis?



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